Adeus Corisco
Apolinário Rebelo
Dia nove de março, foi dia de despedida. Depois de um pouco mais de oito anos chegou a hora de dizer adeus. Deitei ele confortavelmente ao solo, enrolado numa toalha que era uma de suas preferidas quando, de forma traquina e irreverente, se atirava ao vento e a chuva como se dançasse com os pingos que lhe molhavam.
Seu olhar era sincero, profundo. Fitava-nos como se não tivesse outra coisa no mundo a fazer a não ser olhar, acompanhar e proteger. Não tinha tempo ruim para ele. Companheiro de toda hora, de todo dia, de todos os momentos. Nunca cobrava ou demandava nada. Tolerava nossos instantes de impaciência como se fosse um terapeuta ou uma figura madura que quisesse nos passar a mão na cabeça.
Quando eu viajava, ou me ausentava por um período maior, uivava e sofria com a ausência. Mas quando voltava era festa, dava saltos e piruetas, rosnava, mordicava as minhas mãos como sinal de que já havia perdoado e esquecido toda e qualquer ausência. Era assim com todos de casa. Tristeza na partida e festa na chegada. Lealdade e fidelidade infinita.
Não importava seu humor, nada, bastava passar a mão sobre seus longos pelos, olhar nos seus olhos, acarinhar sua cabeça e lá estava ele ali todo perdão, todo feliz. Já se sentia acolhido e pronto para retribuir qualquer afago.