Final de século

Miguel Gustavo de Paiva Torres

Os anos 90, com a derrocada do sistema comunista na União Soviética, foram cenário para aplicação internacional do neoliberalismo patrocinado pelo Consenso de Washington.

Na receita do bolo, abertura de mercados de bens, serviços e privatizações. Foram as diretrizes seguidas nos governos de Fernando Collor e de Fernando Henrique Cardoso; brevemente contestadas no governo de Itamar Franco.

Na presidência Itamar Franco resistiu às privatizações, sobretudo da mineira Vale do Rio Doce e, no Itamaraty, com o chanceler Celso Amorim, manteve apoio à política sul-sul do Itamaraty e ao projeto de criação de uma Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, liderado por seu amigo, embaixador em Lisboa, José Aparecido de Oliveira.

Na sequência, os dois governos do presidente FHC seguiram parcialmente, em alguns temas, as principais diretrizes do Consenso de Washington, dando uma guinada para o comércio internacional, facilitação de negócios e investimentos externos com os países desenvolvidos do norte e no âmbito do Mercosul.

Colocaram em ponto morto o projeto de criação da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa e desativaram quase uma dezena de embaixadas brasileiras na África.

Na época, 1994/95, dirigi a Divisão da África do Itamaraty. O desgaste político de instalar e desinstalar embaixadas é sempre custoso do ponto de vista financeiro e político.

No centro dos assuntos africanos estavam, então, a posse de Nelson Mandela na presidência da República da África do Sul e a continuada guerra civil em Angola.

A África do Sul, Angola e, em menor grau, Moçambique foram assim os principais destaques da diplomacia afro-brasileira nos governos neoliberais de FHC.

Em Angola apoiamos o partido no poder desde a independência, o MPLA, inclusive com exportações de nossa indústria bélica.

Em Moçambique defendíamos projeto importante de mineração da Vale do Rio Doce.

Com a África do Sul tínhamos o ativo histórico de nossa política antiapartheid e iniciamos rápida aproximação comercial e econômica. Mais tarde a África do Sul passou a integrar o coletivo diplomático dos BRIC; que passou a atuar como BRICS.

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