Economia Criativa será mais um modismo gerencial?

Edberto Ticianeli

Na praia, ondas vão e voltam, mas as ondas de modelos gerenciais vão e não voltam nunca mais. Qual a razão dessa curta vida útil para algo que se apresentou como revolucionário? Pergunta-se também: por que, quando são abandonados, ninguém explica a razão do fracasso?

Encontrei boas respostas em “Modismos gerenciais: por que ocorrem?”, texto de Álvaro Camargo, que é consultor, pesquisador, autor e professor em cursos de pós-graduação na área de estratégia, modelos de negócio e gerenciamento de projetos. Foi escrito em São Paulo no dia 14 de junho de 2021.

Modismos gerenciais: por que ocorrem?

Por Álvaro Camargo

Modismos gerenciais são uma constante no mundo corporativo. Quem nunca ouviu expressões como Agile, Darwinismo Digital, Reengenharia, Qualidade Total, Coaching, Mentoring, Value Management, Six Sigma, Reengenharia de Processos, Gerenciamento por Objetivos e OKR (Objective Key Results)?

É fato que o mundo corporativo é tomado de tempos em tempos por modismos gerenciais. Algumas das técnicas introduzidas por esses modismos fazem sentido e perduram ao longo do tempo como práticas valiosas para as empresas. Mas outras perdem seu valor e são criticadas, sendo substituídas por mais um modismo que “agora veio para ficar e que vai resolver todos os problemas das empresas”. Quer exemplo? Na década de 1960 houve a febre do planejamento estratégico. Depois da febre passar, o planejamento estratégico passou a ser fortemente criticado. O mesmo ocorreu com a reengenharia de processos. Até mesmo a onda de círculos de qualidade passou por uma onda e depois caiu no esquecimento.

Modismos gerenciais são gerados não apenas pelo genuíno interesse de melhorar algo. Eles também são criados por influenciadores que possuem interesse comercial na comercialização do modismo. Firmas de consultoria, pesquisadores, gurus da gestão, a mídia e escolas de negócios competem para definir a próxima moda gerencial. Quem não for bem-sucedido nessa corrida para criar, divulgar e implantar novos modismos gerenciais são percebidos como ultrapassados.

Os modismos gerenciais são parecidos com a curva de uma função exponencial. No início, a taxa de crescimento da adoção do modismo é pequena. Repentinamente, a partir de uma certa massa crítica, ocorre uma curva de popularidade que cresce com alta velocidade. Mas, da mesma maneira como crescem, os modismos desaparecem. E, os mesmos agentes que criam um modismo gerencial também o matam. Afinal, existe toda uma indústria que sustenta consultorias, treinamentos, escolas de negócio, mídia e muitos profissionais.

O primeiro fator para a criação de um modismo gerencial é quando existe um problema generalizado em um determinado conjunto de organizações. Por outro lado, alguém propõe uma nova técnica que se mostra promissora para resolver esse problema. Se junto com essas duas condições existir uma grande divulgação, ocorre o cenário perfeito para a adoção em massa do modismo. Além disso, o discurso de quem defende o modismo gerencial deve ser emocionalmente carregado e não deve haver críticas que contradigam os supostos resultados que o modismo propõe.

O crescimento do modismo gerencial nas empresas ocorre porque não há críticas a seu respeito. O novo modismo ainda não foi completamente testado e não se sabe exatamente as condições nas quais ele funciona bem e onde ele é falho. Tudo isso faz com que um modismo gerencial seja alardeado como algo quase mágico.

Mas, a partir do momento em que as empresas começam a perceber que não existe geração concreta de resultados positivos, começam os questionamentos sobre sua eficácia. Esse é o momento certo para que o establishment que criou o modismo o mate. E aí entra em cena um novo modismo. Afinal de contas, a demanda por receitas prontas para resolver problemas organizacionais difíceis de maneira fácil está sempre em alta. E assim o ciclo continua.

*Publicado originalmente em https://www.linkedin.com/pulse/modismos-gerenciais-por-que-ocorrem-alvaro-camargo/?originalSubdomain=pt

Edberto Ticianeli

Jornalista e Produtor Cultural. Ex-secretário Estadual de Cultura. Editor dos sites História de Alagoas e Contexto Alagoas.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *