Horóscopo
Miguel Gustavo de Paiva Torres
Foto de Edberto Ticianeli – Praia de Japaratinga
Quase ninguém acredita, mas todos os demais, ricos, poderosos, emergentes e pobres sempre querem dar uma espiada: saber o que o céu está falando e revelando sobre sua vida, única na carne e indivisível no espírito, mesmo na constelação dos gêmeos.
Escolhi o Quiroga para dar uma lida matinal fechado no banheiro — mais filósofo do que astrólogo. Não perco. Dá um alívio quando as novas são boas e levanta a adrenalina da defesa quando são más.
Hoje, por exemplo, 2 de maio de 2023, o Quiroga revela no meu amado signo de Câncer, nascido que sou ao meio dia do seu primeiro dia, 22 de junho, antevéspera das fogueiras antigas do São João monegasco, português e nordestino.
Diz o Quiroga para mim: “As coisas terminam porque nada é eterno entre o céu e a terra, para experimentar a eternidade é preciso conduzir a alma a uma aproximação ao divino, e isso não é algo que aconteça de forma espontânea e natural.”
É assim mesmo, digo eu para o Quiroga, nascer, crescer e morrer é a natureza de todo ser vivo, molécula em transformação eterna.
O problema é que, no que concerne aos humanos, velhos animalescentes em suas decadências carnais, ninguém acredita na morte, mesmo na hora da morte.
Morrem de medo de morrer. Não se aproximam ao divino na esperança de adiar o inadiável. Por isso é preciso o velório, dos vivos, em cima do morto curtido por carpideiras, iluminado por velas, com suas fitas amarelas.
O segredo do mundo só o morto sabe.
Jesus dizia aos seus seguidores que o mundo é o esconderijo de Deus. Naquela época de andanças e falas do nazareno, o mundo significava, especialmente em sua razão terrena, o conjunto do universo, sempre em expansão mental e espiritual, revelada na relatividade e na gravidade.
Os irracionais, todos aqueles que não acreditavam na razão, só tinham uma maneira de acessar o racional: pela razão.
Seja ela — a Razão —, música, matemática, física ou poesia sempre foi e sempre será o que nos aproxima do divino. Inclusive na loucura, como perceberam Nise da Silveira, os eremitas e os andarilhos.
A morte nada mais é do que o momento supremo da vida. O final de tudo aquilo que é finito por sua própria natureza. Não adianta se queixar. Resta a aproximação ao divino ainda em vida e ao fluxo natural do universo, seja ele irracional, ilusório, verso ou multiverso. Não há como ficar.