Bráulio Leite Jr. deveria dar nome ao Teatro de Arena

Edberto Ticianeli

Geralmente não vejo com bons olhos o troca-troca de nomes de homenageados em espaços públicos, mas, vez por outra, isso pode e deve ocorrer. Cito como exemplo a histórica atuação do então vereador Enio Lins ao devolver os nomes originais a algumas ruas de Maceió.

Lembram quando o Senador Mendonça perdeu o mandato para o Livramento? Não há como não reconhecer que Rua da Alegria é indiscutivelmente mais justo que Rua Joaquim Távora. É muito melhor Rua do Sol que Rua João Pessoa.

Foi lembrando de tal iniciativa que reuni, em assembleia geral, os neurônios ativos que me restam para decidir que é hora de corrigir uma injustiça: a não eternização do nome de Bráulio Leite Jr. em um equipamento cultural.

Antecipo às possíveis críticas esclarecendo que não tive qualquer convivência com ele, a não ser as refregas durante o Festival Universitário do DCE da Ufal, então presidido por mim. Cobrávamos dele a permissão para ocupar todas as cadeiras do teatro, que estavam limitadas, temendo-se o desabamento do Deodoro.

Para quem não sabe, Bráulio Leite Jr. foi quem criou a Fundação Teatro Deodoro (Funted), o Museu da Imagem e do Som (Misa), o Centro de Belas Artes, o Teatro de Arena Sérgio Cardoso, vários grupos corais, de teatro e até as orquestras Filarmônica e de Câmara da Funted. Foi ainda jornalista, cronista, contista, escritor e poeta. Faleceu no dia 27 de fevereiro de 2013.

Pascoal Carlos Magno, Bráulio Leite Júnior, Arnoldo Jambo e Aurélio Buarque de Holanda em 1972, na Praia da Sereia

Se for justo que seu nome seja associado a um equipamento cultural, proponho que seja em substituição ao do ator Sérgio Cardoso no Teatro de Arena. Justifico minha ousadia expondo as razões que levaram o próprio Bráulio Leite Jr. a homenagear o ator paraense logo após a sua morte em 18 de agosto de 1972.

Dias antes, em 14 de julho de 1972, o Teatro de Arena tinha sido inaugurado com a apresentação da peça “O Homem da Flor na Boca”, de Luigi Pirandello. Foi encenada pelos atores Sérgio Cardoso (dirigiu a montagem), Jardel Filho e a alagoana Naná Magalhães.

Houve ainda um segundo espetáculo, Sérgio Fala e Diz, quando o mesmo Sérgio Cardoso recitou: O Descobrimento, de Menotti Del Pecchia; A Serra do Rola-Moça, de Mário de Andrade; O Operário em Construção, de Vinícius de Moraes; Poema de Linha Reta, Fernando Pessoa e O Cântico Negro, de João Régio.

A morte por ataque cardíaco de Sérgio Cardoso, então com 42 anos de idade, gerou comoção em todo o país. Ele era também uma das estrelas das novelas na televisão. Bráulio Leite Jr. acompanhou o pesar de todo mundo e batizou o Teatro de Arena como Sérgio Cardoso.

No próximo dia 14 de julho de 2023, o Teatro de Arena completa 51 anos de sua criação. Avalio que pode ser o momento de passar a denominá-lo de Teatro de Arena Bráulio Leite Jr., eternizando assim a associação do criador à criatura. O Sérgio Cardoso pode continuar a ser lembrado como o nome do palco daquela arena, por exemplo.

Edberto Ticianeli

Jornalista e Produtor Cultural. Ex-secretário Estadual de Cultura. Editor dos sites História de Alagoas e Contexto Alagoas.

3 comentários em “Bráulio Leite Jr. deveria dar nome ao Teatro de Arena

  • 5 de maio de 2023 em 11:39
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    Ticianeli, concordo plenamente com essa proposição . Nada mais justo. Parabéns pela iniciativa.

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  • 7 de maio de 2023 em 13:04
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    Merecida homenagem e que venha a ser concretizada. Parabéns!

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  • 8 de maio de 2023 em 23:28
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    Continuo contra o troca troca de nomes homenageados, mesmo que não tenham sido relevantes na visão de quem como nós não tenhamos vivido o contexto da homenagem.
    Bráulio merece todos os encômios por sua vida dedicada à cultura alagoana, não só a teatral, mas deve haver outras formas do reconhecimento da sua grandeza.
    Por que não lhe dar o nome da Fundação? Não seria superior ao nome do próprio teatro?
    Opino com a saudade de quem sempre o encontrava às gargalhadas na porta do gabinete de Arnoldo Jambo (que dava para rua) e por onde passava Carlos Moliterno em direção à imprensa oficial, deixando o editorial do jornal, de sua autoria. Teotônio Vilela para entregar a sua crônica semanal, Paulo de Castro Silveira e tantos outros.

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