Vinicius Jr. e os Rebeldes do Futebol
Edberto Ticianeli
Quem não viu deveria ver o documentário Rebeldes do Futebol. Indico principalmente para o Vinicius Jr., craque brasileiro do Real Madrid que vem sendo vítima do preconceito racial.
É uma produção francesa dirigida por Gilles Perez e Gilles Rof, apresentada por Eric Cantona. Foi lançado em julho de 2012 no Festival de Cinema de Sarajevo, na Bósnia e Herzegovina.
Conta a história de cinco jogadores de futebol que tiveram atuação política: o bósnio Predrag Pasic, o marfinense Didier Drogba, o chileno Carlos Caszely, o argelino Rachild Mekhloufi e o nosso Sócrates. Podiam ter acrescentado Afonsinho, Casagrande e Reinaldo.
O próprio Cantona também faz parte dessa relação de atletas que se opuseram ao poder e que se tornaram símbolos da resistência, além de se destacarem por suas habilidades no esporte.
São jogadores que tiveram militância política em seus países contra ditaduras ou guerras, num comportamento que não é muito comum entre os desportistas. O próprio Cantona, no documentário, lembra que essa politização acontece mais entre os artistas.
O francês Eric Catona, para quem não lembra, era o “Enfant Terrible“, “The Genious“, “The Bad boy” e “Eric, the King“. Foi, na década de 1990, um dos principais responsáveis pelo ressurgimento do Manchester United, sendo, posteriormente, eleito o melhor jogador da história daquele clube inglês, superando nomes como Bobby Charlton e George Best.
Ficou famoso mesmo quando aplicou uma “voadora” em um torcedor do Crystal Palace que o estava perturbando. Pegou nove meses de suspensão e não foi mais convocado pela Seleção Francesa. Quando soube que não participaria do Mundial, encerrou a carreira. Tinha 30 anos de idade.
É emocionante, no documentário, acompanhar as histórias de coragem desses atletas e suas posturas lúcidas. Comove a trajetória do chileno Carlos Caszely, que se negou a apertar a mão do ditador Pinochet e teve a sua mãe presa e torturada.
Vinicius Jr. e os outros jogadores vítimas do racismo devem se espelhar nesses ícones do esporte. Se não quiserem seguir os exemplos dos Rebeldes, reproduzam a atitude mais recente do PSG e do Istanbul Basaksehir, que fizeram história no Parque dos Príncipes, em Paris, no dia 8 de dezembro de 2020, ao deixarem o gramado, ainda no primeiro tempo, em repúdio a uma ofensa racista do quarto árbitro, o romeno Sebastian Colţescu, contra o camaronês Pierre Webó, que tinha sido atacante da equipe turca e atuava na comissão técnica.
Tem que ser assim: torcedor, árbitro ou dirigente que expor atitude racista, vai ser responsável pelo fim da partida. Os jogadores devem fazer esse pacto. Não tem esporte, nem espetáculo para racistas.