Os velhinhos do cerrado tapando o sol com a peneira
Miguel Gustavo de Paiva Torres
O jovem presidente do Chile estava indignado ontem, 30 de maio, ao deixar a reunião de cúpula sul-americana convocada pelo presidente Lula da Silva para debater, em Brasília, a recriação da defunta União dos Países Sul Americanos – Unasul; pensada, como disse o presidente do Uruguai, Lacalle Pou, como um “clube ideológico” das envelhecidas esquerdas latino-americanas, desconectadas das múltiplas realidades do mundo de hoje, 2023.
Uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa, dizia o Conselheiro Acácio. Em uma casa onde João não gosta de Maria, que não gosta de José, que não ama ninguém e Caim matou Abel, é impossível encontrar fraternidade, amor e consenso.
O Brasil sempre foi considerado o maior inimigo dos países da “RAZA” pura hispânica. O império luso-brasileiro, sobrevivente a todas as declarações de independências republicanas do subcontinente sul-americano, é descrito pelos grandes historiadores como “a flor exótica” da América Latina. Uma jaboticaba preta.
O maior, o melhor, o aristocrático Brasil sempre foi visto com desconfiança e pé atrás: o imperialismo sobranceiro disfarçado sempre escondeu o desprezo pelos “cucarachos”, como definia nossa elite a vizinhança de origem hispânica.
— Bem, se não gostam de nós, podem gostar do nosso dinheiro. Dinheiro ninguém rasga, só louco —, pensavam e acreditavam os artífices da liderança brasileira na América do Sul.
Não só. A imaginação soltava fogos de artifícios diplomáticos: liderança de toda a América Latina e do Caribe também, ressalvado Cuba, é claro, por se tratar de país autônomo não maculado pelo imperialismo do norte.
O jovem socialista presidente do Chile não acreditou no que ouviu e perguntou para o mundo inteiro ver e ouvir: — querem tapar o sol com o dedo? —, referindo-se à construção de uma nova narrativa pelos luas pretas brasileiros, verbalizada pelo experiente presidente do Brasil de que a sanguinária ditadura da nossa querida e vizinha Venezuela seria, na verdade, uma democracia tranquila, como haveria testemunhado presencialmente em encontros e conversas com setores da oposição política, líderes empresariais e outros, o seu enviado especial a Caracas para assuntos internacionais.
Penso, cá com os meus botões, que os nossos jornalistas devem estar ansiosos para entrevistarem o assessor especial e perguntarem o nome de todos aqueles que corroboraram, em Caracas, essa nova narrativa trazida ontem ao palco mundial pelo presidente do Brasil.
Afinal, é um grande e espetacular fato novo esse ambiente democrático, plural e tranquilo da nossa querida nação irmã; que sofreu horrores com a execução extra judicial de mais de 19 mil opositores nos últimos anos.
Em Roraima, e no resto do Brasil, os venezuelanos que acudiram ao nosso país, a maioria caminhando a pé, devem estar exultantes com a notícia de que já podem regressar à pátria amada. Tudo bem no ano que vem.