A Palestina nordestina
Miguel Gustavo de Paiva Torres
Não se trata do pobre e desconhecido município alagoano de nome Palestina, batizado em homenagem à terra de Jesus de Nazaré por político sertanejo de fé cristã.
Trata-se da Palestina dos cananeus, filisteus, beduínos, árabes e judeus ocupada a ferro e fogo ao longo da história por romanos, cruzados europeus, turcos e britânicos.
Todas as previsões de uma terceira guerra mundial sempre apontaram para Jerusalém como o mais provável cenário da última batalha, espetáculo cinematográfico transmitido, ao vivo, para hebreus, cristãos, muçulmanos sunitas, xiitas, hinduístas, zoroastristas, pagãos e ateus.
Mas, é da natureza humana tomar lado, seja no futebol, seja na guerra, mesmo sem entender o que está em jogo e quem está jogando. O que importa é a adrenalina e a euforia do furor, no estádio e no campo de batalha.
Vejamos o caso do Hamas, por exemplo. Como explicar a simpatia e o apoio retórico das esquerdas progressistas, mundo afora, por um movimento com ideologia medieval homofóbica, misógina, fundamentalista e desumanizado.
Tão repressor quanto o Talibã, Estado Islâmico, Al Quaeda e outros derivados, que transformam mulheres em morcegos negros sob o sol inclemente do deserto. Visível só os olhos.
Por exemplo: você que defende os direitos humanos das minorias, LGBTQI e tudo mais, certamente seria enforcado pelo Hamas.
A questão parece ter explicação apenas quando surge algo pior do que o Hamas. Algo que parecia impossível, mas que se torna possível quando entra em cena a interação entre religião e sangue puro ou purificado por conversão.
Quando encontra pela frente o sangue impuro dos fanáticos muçulmanos e dos mestiços — cristãos e outros —, de pele amorenada; com cara de nordestino brasileiro, latino e outras “aberrações”, o sangue puro, do assim chamado povo de Deus, em suas percepções de raça e beleza, defende o seu direito à autodefesa simplesmente pela eliminação dos outros.
A hecatombe humana começa assim, por essas fantasias e tolices que dividem os humanos por milhares de anos; tal qual as tribos dos primatas antropoides: sempre em busca de mais território e de mais comida.
No caso dos humanos, mais dinheiro, mais armas e mais poder.
Um dia teria que acontecer. Está acontecendo. Um jogo de soma zero.