A desumanização: religião racismo e luta de classes

Miguel Gustavo de Paiva Torres

— Não meu amigo. Egito, Arábia Saudita, Bahrein, Kwaite, Quatar, Emirados Árabes não são uma Disneylândia no deserto para divertimento de ingleses, americanos e latinos americanos. Podem até parecer, mas não são.

Na Arábia Sauditapobreza e ela se espalha por todo o interior do país. A revolta é grande por lá. O mesmo quadro se repete no Egito e no golfo arábico e pérsico.

O luxo, o desperdício, as obras de engenharia civil futuristas; com investimentos trilionários do mundo inteiro, são um orgulho nacional para as elites monárquicas desses antigos subúrbios desertos, à beira mar, dos colonizadores europeus nos séculos XIX e XX.

A guerra fria entre ocidente e oriente envolveu de pleno o oriente médio. A fundação do Estado de Israel e a guerra com os países árabes que não aceitaram a partição da Palestina entre judeus e árabes, conforme decisão da então recém-criada ONU, dividiu a região em alianças opostas e inimigas.

Nasser, ídolo do exército egípcio, replicou o mesmo modelo de Ataturk, na Turquia. Um estado laico e progressista com foco na criação de uma forte classe média e no combate à fome e à pobreza herdadas da monarquia absolutista do Rei Farouk.

Com a recusa da entrega de armas por seu antigo patrono, o Reino Unido, durante sua segunda guerra contra Israel, em 1973, aliou-se a Moscou e formou uma aviação e um arsenal bélico fabuloso. Conseguiram assim se recuperar da humilhante derrota da guerra dos sete dias com Israel em 1967.

O Egito, que liderava o mundo árabe, sempre contando com apoio da Jordânia e da Síria, perdeu Nasser, vitimado por um ataque cardíaco.

Colocaram Anuar Sadat para terminar com a influência soviética e negociar a paz com Israel, conforme desejo dos Estados Unidos e da Europa Ocidental, com suas economia e finanças movidas por uma elite de raça e fé judia.

Em 1981, com o alastramento da pobreza no Egito e no mundo árabe em geral, excetuados os países petrolíferos da novíssima OPEP, que começava a ter influência e poder na economia ocidental movida a óleo e gás, o fundamentalismo islâmico, fincado nas leis do Alcorão, meteu uma bala na cabeça de Anuar Sadat.

Arábia Saudita e países do Golfo emergiram como novas potências econômicas do mundo árabe, muçulmano, dividido entre sunitas, xiítas e sunitas wahabitas fundamentalistas.

As monarquias absolutistas se aliaram aos chefes religiosos para controle e administração das classes sociais desfavorecidas no deserto da pobreza árabe e beduína.

Começou então uma poderosa aliança entre o capitalismo europeu, norte-americano e judeu para dar sustentação ao luxo, devassidão e poder temporal das monarquias divinizadas do oriente médio.

O milionário saudita Osama bin Laden, da poderosa e riquíssima família Laden, da Arábia Saudita, se ergueu em armas e deu início ao extremismo terrorista global.

Foi caçado por mais de uma década pelas forças norte-americanas e abatido a tiros, em sua casa secreta, na cidade de Abottabad, no Paquistão, ao lado de um importante complexo militar do exército paquistanês.

O exemplo de Bin Laden resultou numa contínua Jihad islâmica — Guerra Santa —, com diversos grupos espalhados no oriente médio e mundo afora. Um recrutamento contínuo para a luta contra o Grande Satan norte-americano e judeu.

Em 1979 entra em cena o Irã. Tal qual os sunitas wahabitas da Arábia Saudita os xiítas da antiga Pérsia tomaram o poder com a liderança do Aiatolá Khomeini, formaram a sua extremista Guarda Revolucionária e elegeram como prioridade varrer Israel do mapa do oriente médio.

Com o passar do tempo liberalizaram um pouco a violenta repressão dos costumes da antiga sociedade persa ocidentalizada nos tempos do Xá Reza Pahlevi e sua bela Farah Diba, e roubaram muito. A corrupção enriqueceu e fortaleceu os Aiatolás e o fundamentalismo xiíta.

O Irã entrou para dividir o mundo árabe entre sunitas e xiítas. Pretendia se pôr em condições de igualdade de influência com os seus vizinhos árabes na outra margem do Golfo Pérsico, principalmente o grande aliado dos Estados Unidos, a Arábia Saudita.

Para o regime teocrático do Irã nunca foi prioridade a questão social. A luta de classes ocidental. O que importava, assim com para os extremistas árabes, era e é a guerra santa contra o Ocidente. Conseguir a mesma bomba atômica que a França desenvolveu para a segurança de Israel.

Todos esses grandes atores do oriente médio, à exceção do Egito e países árabes do norte da África; Líbano, Jordânia e Síria, sempre desprezaram os palestinos pobres que procuraram abrigo em seus territórios. Um povo tratado como racialmente inferior, muito parecido com o tratamento dado aos nordestinos do Brasil.

Para agradar o povo palestino, ajudaram com doações financeiras e materiais e abrigaram discretamente suas lideranças políticas em seus territórios.

Exilado no Kuait, Yasser Arafat, fundou a OLP e começou uma insurgência armada com ações terroristas pró-palestina e contra Israel. Pouco depois o Kuait expulsou a imensa colônia palestina refugiada em seu território.

Agora chegamos ao apocalipse. Os palestinos presos e massacrados como gado no abatedouro em seu próprio território ancestral. É uma longuíssima história de dor, sofrimentos e sangue, muito sangue. Shalom.

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