Sobre o livro “Caderno de Viagens” do Embaixador Miguel Gustavo de Paiva Torres

Gonçalo Mello Mourão
Embaixador e ex-Diretor-Geral do Instituto Rio Branco

Grande serviço vem de prestar a Editora Francisco Alves às gerações futuras de diplomatas brasileiros, com a recente publicação do livro do alagoano Embaixador Miguel Gustavo de Paiva Torres, intitulado Caderno de Viagens.

​Após longos anos de carreira, em postos os mais díspares quanto a tudo, Miguel Gustavo faz um balanço de seu percurso profissional entremeado com um balanço de sua vida. Além de Brasília, naturalmente, somos levados à Costa do Marfim, Cuba, Alemanha Ocidental com lampejos de Paris, Arábia Saudita, Kuaite, Índia, Paquistão, Indonésia, Portugal, República Tcheca, México. Como diz o subtítulo do livro, foram “os quatro cantos do mundo”.

​Mas não se trata de um livro de viagens, nem simplesmente de memórias ou de análises diplomáticas. É muito mais. É uma deliciosa descrição de toda uma vida dedicada à diplomacia, à representação do Brasil no exterior e à descoberta do mundo. E é nesse sentido que constitui grande serviço às gerações futuras de diplomatas brasileiros e mesmo estrangeiros. Porque não se trata de uma lição de diplomacia, como tantos outros excelentes depoimentos pessoais de diplomatas que vamos tendo publicados no Brasil, cada vez mais. Outro dia mesmo, tivemos o lançamento do delicado livro do Embaixador Eduardo Santos, que foi Secretário-Geral do Itamaraty e Embaixador em Assunção e Londres, entre outros e, coincidentemente, também editado pela Francisco Alves. Não é uma lição de diplomacia, dizia, o livro de Miguel Gustavo, é uma lição de vida diplomática, entremeada com uma lição de vida, simplesmente. Como viver uma vida diplomática sem deixar de viver a vida.

​Pois existem inúmeras maneiras de ser diplomata e nem sempre cada um escolhe a maneira que quer. Miguel Gustavo parece ter podido escolher e nos conta como foi. A vida diplomática pode nos levar a grandes momentos da política externa do país, ou mesmo do mundo, ou pode nos levar a penosos exercícios consulares, a invisíveis funções administrativas ou a instigantes criações culturais, a interessantes conchavos políticos, a desafiadores embates multilaterais, a tudo. A vida diplomática do Embaixador Miguel Gustavo o levou a um pouco disso tudo e a escrever esse livro. Nele o leitor verá como um diplomata pôde exercer plenamente suas funções profissionais sem perder a curiosidade existencial de quem perambula de olhos abertos pelo mundo, levando ao mundo sempre o seu país.

​Quando esteve naqueles países todos, esteve sempre também o Brasil e, agora, traz ele de volta para o Brasil, em seu livro, aqueles lugares todos do mundo onde esteve e nos conta como esteve: diplomaticamente. Por isso serão gratos a ele nossos diplomatas futuros que o lerem. Verão no livro do Embaixador Miguel Gustavo um caminho rico de realização profissional que o levou à realização pessoal.

​E os demais leitores curiosos verão no livro um delicioso percurso humano de quem soube ver tudo o que viu, de quem soube entender que diplomacia não é apenas uma atividade política entre estados ou governos mas é também — e talvez sobretudo — uma atividade entre pessoas, uma descoberta constante do outro e uma exposição constante ao outro, para procurar fazer do mundo um lugar de amigos.

Um comentário em “Sobre o livro “Caderno de Viagens” do Embaixador Miguel Gustavo de Paiva Torres

  • 19 de março de 2024 em 08:59
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    Nada mais verdadeiro que o comentário de Edberto Ticianel sobre o Embaixador Miguel Gustavo de Paiva Torres que vem se revelado um grande escritor.

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