Os bichos – A última Arca de Noé
Miguel Gustavo de Paiva Torres
Como fazer para tirar proveito político de tragédias humanas ou não. Mais vale um pet na mão do que dois mendigos afogados. Nada contra os bichos. Sempre fui a favor dos bichos. O único bicho que, em sua maioria, não merece o seu pesar o seu amor e a sua dor é o bicho chamado de humano, seja ele ou ela, bicho ou bicha, pensante, com raciocínio lógico e matemático; sempre atraído pela lei da gravidade de uma criação desconhecida dos outros bichos não humanos: o dinheiro.
Quando menino minha geração tratava bichos como bichos. Sem alma; como diziam os doutores da Igreja e os intelectuais com capa, galochas e guarda chuvas. Por isso cachorros eram chutados nas ruas pelos meninos do quarteirão. Ninhada de gatos ensacadas e jogadas ao mar, cavalos esporeados até o sangue jorrar. Bichos não tem alma, não tem afeto e não foram feitos à imagem de Deus algum, seja ele Jeová, Alá, ou Jesus de Nazaré. Só os persas entenderam que o fogo era Deus. A água também, diziam os opositores de Zoroastro que fugiram da perseguição religiosa e se exilaram na Índia dos mil e um deuses.
A Índia foi a primeira civilização humana a reconhecer os bichos como semelhantes de Deus: o elefante, o rato, o cachorro, a pulga, os insetos e todas as formas de vida.
Todos feitos à imagem e semelhança do Deus que você escolher, mesmo que sejam abelhas, raízes, árvores e flores. Mas isso não dá dinheiro, diz o senhor feudal e o conquistador. Precisamos do valor agregado nas rochas, no ferro , no ouro, no níquel e no trabalho escravo, branco, negro ou amarelo, tanto faz homem ou mulher; o importante é que a parte do leão não caia nas mãos das astutas leoas.
Não foi Platão, Aristóteles e muito menos Cícero e Júlio César os que criaram a civilização ocidental.
A civilização dos brancos e alourados neandertais europeus; migrantes do novo mundo.
A civilização de Joe Biden, Trump, Napoleão, Macron, Mitterand, De Gaulle, Eisenhower, Catarina, a grande, Putin e Xi Ji Ping na construção da sua nova rota da seda foi erguida a ferro e fogo por milhões de mortos em toda a periferia global.
Essa civilização do império e do capitalismo selvagem, desabrido, chega agora à época dos fanáticos e lunáticos explodindo foguetes em direção à marte e nadando de braçadas nos mares de fome e lodo dos quatro continentes.
Foi um cara pobre de Nova Iorque, conhecido na cidade como Al Capone, um dos que mais marcaram o início da era do gangsterismo no Ocidente, hoje dirigido parcialmente pelo crime organizado, Urbi et Orbi: — Tenha sempre um sorriso nos lábios, uma boa conversa e um revólver engatilhado na mão — dizia o simpático baixinho, rei das quebradas da cidade.
Vida é tempo. E o tempo é dinheiro. Depois a gente vê o que acontece.
Estamos vendo o que acontece por todo lado. Agora chegou ao sul do Brasil; nosso lindo Rio Grande do Sul; dos pampas, cavalos, ovelhas, cabras, cães de raça ou não que só faltam falar, mas também choram e abraçam.
Bichos, de todo tipo, entrelaçados e destituídos de dinheiro, água e comida, levados pela correnteza vingativa da natureza. Não há enigmas, há realidade. A realidade da natureza que o dinheiro não compra.