As cidade e as inundações

Valmir Pedrosa*

As primeiras cidades surgiram próximas aos grandes rios ― fonte de água, alimentos e transporte. Em suas histórias, inundações terríveis ocorreram. Mesmo antes do nascimento de Cristo, há registro de inundações na cidade de Aswan, às margens do Rio Nilo. Devido a chuvas intensas em suas cabeceiras ― no que hoje é o território da Turquia ―, as inundações dos rios gêmeos, Tigre e Eufrates, são parte da memória da Mesopotâmia. As águas do primeiro apavoravam a população de Bagdah.

O Pantheon, em Roma, obra singular do gênio humano, com quase dois mil anos de existência, já foi alcançado diversas vezes pelas águas altas do Rio Tibre. Em 1966, a cidade de Firenze foi duramente atingida por uma inundação. Na foto é possível ver que as águas do Rio Arno alcançaram a Accademia Gallery e, ao fundo, a famosa estátua de Davi de Michelangelo. Apesar dos infortúnios, estes dois monumentos seguem encantando os visitantes.

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Águas do Rio Arno invadem a Accademia Gallery

No ano de 1927, a enchente do Rio Mississippi ― o maior rio dos Estados Unidos, limitado a oeste pelas Montanhas Rochosas e a leste pelos Apalaches ― foi um ponto de inflexão na história da infraestrutura hídrica. O evento hidrológico extremo uniu congressistas do Sul e do Oeste, dando início a um programa de grandes obras hidráulicas. As ações coordenadas por Herbert Hoover – então responsável pelas respostas à tragédia – abriram as águas no seu caminho para tornar-se Presidente dos Estados Unidos no período de 1929 até 1933. A história humana mostra que as grandes catástrofes abrem portas para significativas chances de mudanças.

Nos anos vindouros, segundo os especialistas em mudanças climáticas, as enchentes excepcionais terão maior probabilidade de ocorrência. Para o enfrentamento das inundações, os bons manuais indicam uma composição de medidas estruturais e medidas não-estruturais.

Um bom serviço de previsão e alerta de eventos hidrológicos extremos. A construção de reservatórios a montante com significativa capacidade de armazenar água. A escolha do que pode ser tolerado e do que não pode ser tolerado em uma área de inundação. Estas são medidas que costumam compor ações para evitar perdas de vidas humanas e para reduzir os danos aos ativos públicos e privados.

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*É professor da Universidade Federal de Alagoas.
Ministra cursos sobre Gestão de conflitos pela água e realiza estudos de viabilidade financeira (EVTEA, CERTOH) de infraestrutura hídrica.

Edberto Ticianeli

Jornalista e Produtor Cultural. Ex-secretário Estadual de Cultura. Editor dos sites História de Alagoas e Contexto Alagoas.

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