Rodrigo Cunha decepciona bolsonaristas
Edberto Ticianeli – jornalista
Uma antiga piada conta que um almirante português tendo que passar com seu navio por uma área de guerra onde de um lado estava a frota inglesa e do outro a alemã, teve a brilhante ideia de colocar bandeiras desses países penduradas nas laterais da sua nau, tomando o cuidado de deixar cada uma delas voltada para os navios de suas cores.
Entrou no “corredor polonês” aplaudido pelos marinheiros dos dois países.
Ficou tão entusiasmado com o sucesso alcançado com a sua malandragem que mandou dar meia volta e passar novamente agradecendo.
Como não trocou as bandeiras de lado, foi bombardeado e afundou em minutos.
Lembrou-me esta historinha a situação em que se meteu o recém-eleito senador Rodrigo Cunha.
Fez sua campanha sem apoiar abertamente nenhum candidato a presidente da República.
Não foi cobrado por está posição dúbia, principalmente porque entre seus eleitores, a maioria também votava em Bolsonaro e acreditava piamente que Cunha apoiava o capitão defensor da tortura.
Essa convicção foi firmada, também, por Cunha discursar sempre contra a corrupção, deixando claro que não votaria no candidato do PT.
Agora, já eleito com 895.738 votos — boa parte deles ofertados por bolsonaristas —, foi chamado a pagar a fatura e teve que explicar que também não vota no Bolsonaro porque ele foi o único voto contra a cassação do então deputado federal Talvane Albuquerque, acusado de ser mandante da chacina de dezembro de 1998 que vitimou sua mãe, a recém-eleita deputada federal Ceci Cunha.
Ao exibir no seu “navio” (ou trio) as cores verde e amarela dos bolsonaristas, Rodrigo Cunha fez parecer que era um deles. Agora revela que não é bem assim e correu para o tradicional muro tucano.
Não deu certo. Pelas manifestações agressivas nas redes sociais fica claro que se houvesse segundo turno para o Senado, sua votação afundaria tal qual o navio do almirante português.