Muita calma nessa hora
Edberto Ticianeli – jornalista
(Maceió-Alagoas)
Não há motivos para definirmos de forma precipitada o que faremos.
Agora, é preciso avaliar bem o processo político (período mais amplo) que estamos vivendo sem sermos contaminados pelos discursos de campanha eleitoral.
Principalmente sem sermos influenciados pelos nossos próprios discursos, aqueles que elaboramos para desconstruir o adversário.
Não há motivo para pânico. Aliás, nunca haverá motivo para agirmos sem pensar.
Hoje (29), pela manhã, em plena ressaca eleitoral, flagrei discussões que denunciam um certo descontrole político natural da nossa velha conhecida dos anos 70, a “pressa pequeno-burguesa”.
Em um grupo, por exemplo, já se discutia quem vai liderar as oposições: Haddad, Ciro ou Boulos.
Em outros proliferam poesias e textos históricos, que soam como cantos de uma luta cujos combates ainda não foram delineados claramente.
Alguns destes textos servem mais para amedrontar que para estimular.
Avalio que além de sofrermos uma derrota eleitoral, perdemos, já há algum tempo, a batalha no campo das ideias.
Se não há como prever agora o que os fascistas vão conseguir fazer com o governo nas mãos, muito menos podemos vislumbrar como se portarão as principais lideranças políticas do campo oposicionista.
Mas, o que mais me preocupa é o profundo distanciamento que os analistas guardam do instrumental científico para compreender o capitalismo e os seus mecanismos de poder.
Percebo ainda que lutamos por democracia como forma de garantirmos a liberdade de expressão, de culto, de ir e vir…
Não entendemos a democracia como espaço para a construção de um mundo melhor.
Isso acontece exatamente porque perdemos a luta no campo das ideias. Abdicamos de enfrentar o inimigo principal.
Pelo menos um fato novo ocorreu nesse processo eleitoral: houve o despertar do sentido de unidade para a luta.
Tirou muita gente do seu “quadrado”, recuperando alguns para as ações mais amplas, forçando-os a conviver com “adversários” de outros “quadrados”, forçando-os a entender que as lutas setoriais são importantes, mas nunca, repito NUNCA, pode-se abandonar as lutas mais gerais.
Que venham os cantos de combate, que venham as declarações de coragem, mas, e principalmente, que venhamos a pensar, refletir e analisar as situações com olhares mais amplos e sem ranços hegemônicos.