O CSA da Marta

Edberto Ticianeli – jornalista

Nunca entendi bem essa de alagoano torcer por clubes do Rio de Janeiro ou de São Paulo.

Atribuo tal distorção à força do rádio e da televisão do Sudeste, que souberam impor seus interesses ao Brasil.

Mas, aqui pra nós, quando chega a hora de colocar o coração na camisa o que vale mesmo é a paixão pelo time local.

Para não suscitar discussões desnecessárias, aceito que se tenha “simpatia” pelos times “Globais”.

Em minha defesa invoco um exemplo de peso (não igual ao do nosso atacante Walter).

Refiro-me à Rainha Marta.

Alagoana de Dois Riachos — onde começou a vestir a camisa azulina —, foi escolhida por seis vezes a melhor jogadora do mundo e atualmente joga no Orlando Pride, dos Estados Unidos.

Marta, com 32 anos, está de férias em Maceió onde aproveitou para realizar uma pequena cirurgia no olho direito e torcer para o seu CSA vencer o Avaí no sábado, 17 de novembro.

Não deu. O Avaí ganhou e o “azulão” adiou sua chegada à elite do futebol brasileiro para o sábado seguinte em Caxias.

E para lá foi a Marta e uma pequena torcida azulina.

A tarde era fria e com chuva na arena esvaziada pelo rebaixamento antecipado do Juventude.

A televisão não tinha muito o que mostrar nas arquibancadas, até que descobriu a Marta.

Surpreso, o locutor só faltou perguntar o que fazia ali a melhor jogadora do mundo.

Ela respondeu com gestos: estava torcendo e vibrando como uma apaixonada por seu clube.

Sim! Marta estava torcendo pelo CSA, o primeiro clube a tocar o seu coração, quando ainda era criança e jogava futebol nos descampados empoeirados de Dois Riachos.

Ela podia estar com a camisa do Real Madrid, Barcelona, Paris Saint-Germain, Bayern, Botafogo ou Palmeiras que ninguém estranharia.

Mas preferiu dizer que não esquecia suas raízes e que o seu coração continuava a bater forte quando vestia azul.

Seus gestos nas comemorações dos quatro gols do CSA eram testemunhos da mais viva e sincera emoção.

No intervalo do jogo, deu outra aula: saiu do camarote e foi para o campo enlameado para ser fotografada ao lado dos que estavam trabalhando na partida.

Depois, fez questão de percorrer o pequeno estádio e acenar para a torcida ali presente.

Alagoas tem muito que se orgulhar por ter uma filha como a Marta.

E nós do CSA temos o privilégio de tê-la como torcedora símbolo.

Edberto Ticianeli

Jornalista e Produtor Cultural. Ex-secretário Estadual de Cultura. Editor dos sites História de Alagoas e Contexto Alagoas.

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