Tectonismo em Maceió pode explicar rachaduras no Pinheiro
Edberto Ticianeli – jornalista
Foto Pei Fon, Secom Maceió
Em tempos de muitas especulações sobre as rachaduras que surgiram nas ruas, casas e prédios do bairro do Pinheiro em Maceió, devemos sempre pedir a opinião de quem conhece o assunto.
Na minha cabeça veio imediatamente a lembrança de um dos melhores geógrafos de Alagoas, o professor Ivan Fernandes Lima, que foi meu professor no antigo Colégio Estadual de Alagoas e já não está mais entre nós.
Foi ele quem produziu os dois estudos mais recentes sobre a nossa geografia: Geografia de Alagoas, de 1965, e Maceió a Cidade Restinga, de 1990.
Duas obras que recomendo para quem quer conhecer a origem das características físicas de Alagoas e Maceió.
Pois bem, Ivan Fernandes Lima, em Maceió a Cidade Restinga, ao analisar a movimentação das camadas da crosta terrestre e como ela afetou a nossa formação, identificou que “fenômenos tectônicos atuaram em fases diversas nas estruturas sedimentares da Bacia, quanto no resto do Estado”.
E continuou: “As deformações tectônicas que causaram dobras, falhas e inclinações nas camadas sedimentares da bacia, estão presentes com muitas de suas manifestações na região lagunar; tanto acentuam o caráter da subsidência que ela tem sofrido, como representam altos estruturais, soerguendo alguns de seus trechos e revelam também as formas de acomodação pela compactação diferencial resultante destas formas anteriores, de estruturas desenvolvidas que se estabeleceram”.
O mais importante no estudo do renomado professor é a constatação que o tectonismo provocou os processos sedimentares e que “não se pode excluir que fora coadjuvado pela subsidência, o que levou mais para o fundo partes correspondentes aos trechos estuarinos dos paleos rios Mundaú e Paraíba-do-Meio, condicionando a permanência de massas d’água nas calhas abertas, como as vemos hoje, após os últimos movimentos que afetaram posteriormente o Barreiras com uma fase de lenta subsidência nos começos do Quaternário, repercutindo por curtos e pequenos movimentos, em novas acomodações segundo se tem registro através dos tempos, presenciados pelo homem, pois, TWENHOFEL (W. H. Twenhofel) nos diz que: ‘estas estruturas se concluem por compactação de dobras’”.
Subsidência é o afundamento abrupto ou gradativo da superfície da terra, com pouco ou nenhum movimento horizontal. O outro movimento vertical é o soerguimento e compõem o movimento epirogênico.
O movimento orogênico é provocado pelo o encontro horizontal entre placas tectônicas e são responsáveis pela formação de grandes cadeias de montanhas e cordilheiras, gerando ainda vulcões, falhas geológicas, abalos sísmicos e terremotos.
Após apresentar vários argumentos, Ivan Fernandes Lima conclui que “Confirma-se o afundamento com a deposição cujo reconhecimento de camadas intercaladas denotam: ora o avanço do mar, ora o dos sedimentos continentais. Assim DUNBAR e RODGERS (C. O. Dunbar e F. Rodgers) acentuam que ‘a subsidência intermitente conduzirá, certamente, para o fundo as interpenetrações dos depósitos marinhos e não marinhos, a linha do litoral retira-se para o lado do continente durante rápida subsidência e avançará na direção do mar na fase de estabilidade’”.
Entretanto, como o Pinheiro está sobre uma conformação de barreira, poderia permanecer a dúvida sobre se o fenômeno da subsidência também atuaria nesta área.
O próprio geógrafo foi quem esclareceu ao afirmar que mesmo aí predominavam os deslocamentos verticais. “Excetuando-se os depósitos recentes. O Grupo Barreiras repousa, discordantemente, sobre as que lhe são inferiores, e ‘está afetada por suaves movimentos da estrutura pelo epirogenismo do planalto inclinado pouco menos de um grau (1°)’”.
Como se percebe, é preciso investigar mais e sobre a luz da ciência o fenômeno que está afetando a vida de centenas de moradores do bairro.
Que isso aconteça com a máxima urgência.