Comemoração do 31 de março de 1964 é armadilha do Bolsonaro para os militares
Edberto Ticianeli – jornalista
Para ampliar os inúmeros desentendimentos que tem cultivado com seus “aliados”, o presidente Bolsonaro aprontou mais uma. Desta feita com os militares.
Na segunda-feira (25), o porta-voz da Presidência da República, Otávio Rêgo Barros, divulgou que o presidente Jair Bolsonaro havia determinado ao Ministério da Defesa que realizasse as “comemorações devidas” alusivas ao 31 de março de 1964.
Refere-se ao aniversário do golpe que mergulhou o país numa ditadura militar durante 21 anos.
Bolsonaro sabe que o assunto é tratado nos quartéis como algo que merece ficar somente na história e que não vale a pena reacender todo ano a discussão sobre o nefasto papel que as Forças Armadas cumpriram naquele período.
Mas, como em todo lugar, tem também nas unidades das Forças Armadas uns poucos que cultuam os estados de exceções e os superpoderes que os militares adquirem neles.
São estes que estão sendo açulados pelo presidente irresponsável.
Bolsonaro está desviando para a caserna os olhares e a possível crítica dos que enxergam nestes atos comemorativos um desrespeito constitucional.
Isso incomoda setores militares que percebem na manobra uma intimidação.
“Tá comigo ou sem migo?”, estaria perguntando indiretamente o presidente ao associar a comemoração ao seu ideário ideológico declaradamente fascista.
A dimensão dos eventos nos quartéis ou fora deles no dia 31 de março será termômetro para se saber até que ponto os militares estão dispostos a referendar os arroubos aloprados do presidente.