O ET de Cassimiro de Abreu
Edberto Ticianeli – jornalista
Certo dia, Edílcio Barbosa, morador de Cassimiro de Abreu, Rio de Janeiro, e aficionado por ufologia, revelou que os extraterrestres estavam chegando.
Os viajantes de Júpiter haviam informado a ele que a cidade deveria se preparar para recebê-los.
Pousariam na fazenda Nossa Senhora da Conceição às 5h20 da manhã do sábado, 8 de março de 1980.
Sentindo-se honrado com visitas tão ilustres, o prefeito imediatamente organizou um comitê de boas-vindas.
Ficou acertado que jupterianos, mesmo após viagem cansativa de 483 milhões de milhas durante dois anos, teriam agenda cheia na cidade.
Após o pouso na pista construída exclusivamente para a nave, exatamente às 5h20, receberiam a chave da cidade e percorreriam a rua principal em carro aberto até o clube, onde seria oferecido um delicioso café da manhã aos desbravadores interplanetários.
A merendeira do Grupo Escolar, que ficou encarregada de preparar o café, ainda tentou saber o cardápio preferido dos extraterrestres, mas foi aconselhada a não perguntar mais nada e fazer cuscus com ovo.
O prefeito insistiu e a Comissão concordou que antes do café eles também receberiam uma enciclopédia e ouviriam “breves palavras” do chefe do executivo. Um baile também foi programado para o período noturno.
Mas a notícia se espalhou e o que era para ser um encontro exclusivo entre os habitantes da pequena Cassimiro de Abreu e os intrépidos viajantes de Júpiter, passou a ser visto como um Woodstock ufológico.
A imprensa foi a primeira a chegar.
A possibilidade de se ter jupterianos no Rio de Janeiro atraiu jornalistas, cientistas e ufólogos de vários países e até pesquisadores da Nasa.
Claro que para lá também rumaram os mais antigos viajantes da galáxia: os ambulantes.
Todos os funcionários públicos do município foram chamados a participar da recepção, que contou ainda com a presença do Exército e de uma equipe da Defesa Civil do Estado.
O hospital local entrou de prontidão para qualquer emergência e um orelhão foi instalado próximo à pista de pouso.
Até hoje ninguém descobriu se esse telefone era mesmo para servir aos extraterrestres ou serviu apenas como propaganda interplanetária de uma operadora.
Na madrugada de 8 de março de 1980, os vinte e dois mil moradores do local, que receberam mais de oito mil visitantes, passaram a olhar ansiosamente para o céu em busca dos sinais da nave.
Ninguém podia se aproximar da área de pouso. A maioria se estabeleceu numa encosta da fazenda.
Às 5 horas e 20 minutos, fez-se silêncio absoluto no local.
Foi interrompido somente uma vez após a rápida piscada de um vagalume retardatário que resolveu passar sobre a multidão.
Dez minutos se passaram e nada da nave com seus viajantes.
A multidão começou a demonstrar insatisfação. Afinal, um atraso de dez minutos é inconcebível para quem veio de Júpiter para conhecer Cassimiro de Abreu.
Vinte minutos depois, a frustração já aparecia nos rostos maldormidos dos presentes. Foi quando alguém gritou que o “Mensageiro de Júpiter” era uma fraude.
O tumulto começou imediatamente e Edílcio Barbosa, que até aquele momento era saudado como alguém iluminado por Zeus, passou a correr riscos e saiu do local escoltado pela Polícia Militar.
Mesmo após ter provocado imensa decepção na comunidade científica, o “Mensageiro de Júpiter” não se deu por vencido.
Concedeu entrevista explicando que o disco voador veio, mas não pousou. Tinha muita gente na área.
Dias depois anunciou que tinha feito novo contato com os extraterrenos e que eles apareceriam na cidade vizinha, Rio Bonito, mas não definiu o local exato e a hora para não causar confusão.
Edílcio Barbosa faleceu pouco meses depois de anunciar esse novo contato.
Não faltou rio-bonitense para afirmar, dias após, que algumas luzes diferentes foram avistadas sobre a cidade.
Se ainda estivesse vivo, Edílcio estaria, com certeza, envolvido com algum evento capaz de demonstrar que a terra é plana ou mesmo participando de algum cargo no Ministério do atual governo.