Boulos, Marília e 2022
Por Sérgio Braga
Pra mim são casos emblemáticos, sejam para bem ou para o mal.
Boulos tem qualidades individuais inquestionáveis, uma vida dedicada à defesa dos pobres e estropiados abrindo mão inclusive de vida confortável, é um ser humano virtuoso sob o ponto de vista cristão e não cristão e não é político profissional, o que nesta quadra em que estamos, importa, a despeito de não ser “outsider”. E ainda conta com uma torcida “enviesada” da grande mídia no sentido de apagar o PT.
Mas, penso eu, não foi esse cabedal de qualidades que pôs no mesmo palanque Lula, Marina, Ciro e Dino, ao seu lado. Foi uma espécie de “domingo lilás”, todos contra satanás. Foi o Dória, pois as candidaturas do Bolsonaro foram rejeitadas no primeiro turno. O Ciro deixou isso escapar numa entrevista recente dada a uma rádio de Pernambuco. Concordo com ele. Uma coisa é o que pensa e faz o militante de esquerda, ou simplesmente democrata. Age com o coração cheio de crenças e desejos. Outra coisa são as direções partidárias movidas majoritariamente pelo pragmatismo eleitoral, e conjuntural. No caso, como dizemos por aqui: juntou-se à fome, a vontade de comer! Ademais, também, a virulência da rede de “assassinato de reputações” que se move contra Boulos, já o faz há décadas. Parece que o “homem” adquiriu certa imunidade. É um caso muito peculiar.
Marília e João Campos são herdeiros políticos da tradicional família Arraes, que em partidos distintos, e ambos pela centro-esquerda, repetem o que acontece no Nordeste com Lobo, Lobinho e Lobão, Sarney, Sarneyzinho e Sarneyzão, no Maranhão; Lucenas, Cunhas Lima, e Maranhões na Paraíba; Renans, Vilelas, Davinos, Caldas, Galbinhas e Galbões em Alagoas, etc. Falo aqui apenas da tradição política familiar sem juízo de valor.
Mas ali, em Recife, segundo informações, corre solto contra Marília a rede de assassinato de reputações, supõe-se vinda dos Campos, cujo vice é do PDT do Ciro e tem apoio do PC do B. Incêndios de Igrejas; maconha; cocaína; bacanais onde criancinhas assadas em azeite de oliva e laqueadas com mel são servidas, fazem parte do vasto repertório, que para acreditar há de se fazer um exercício profundo de empedernida demência, imensurável indigência mental, ou canalhismo atávico. Mas, pasmem, há gente pra isso. E, pasmem novamente, muita gente.
Ali em Recife estão valendo os “instintos mais primitivos” em função da sobrevivência político-partidária (interessante ler artigo do Edberto Ticianeli “Partidos e eleições sem coligações em Maceió” – www.contextoalagoas.com.br – para entender em parte a batalha em andamento).
Com 2022 à vista, a sobrevivência local e às normas eleitorais em pauta emergencial, mostra como o pêndulo poderá balançar no futuro.
Um país com o Estado esfacelado e refém de corporações públicas, como juízes, ministério público, e forças armadas, que nenhuma reforma atinge e cujos privilégios são intocáveis, e também refém de setores produtivos atrasados, incapazes de propiciar desenvolvimento sustentável e de alta produtividade com distribuição de renda, complementado por partidos incapazes de apresentar um projeto de desenvolvimento nacional estruturado com começo meio e fim, que por ventura possa atrair setores da vida nacional, indicam que a coisa será pra lá de difícil.
E, quem sabe, com o refestelar da dita “centro-Direita” nos municípios médios e pequenos, onde vive grande parte do eleitorado brasileiro, faltando-lhes apenas um candidato competitivo, chegue lá por suas próprias pernas. Mas, se não chegar, reeditará o quem tem ocorrido no Brasil desde a redemocratização. Terão maioria no congresso e de braços abertos para o eventual novo governo, a depender do jantar.