Partidos e eleições sem coligações em Maceió

Edberto Ticianeli – jornalista

Habituados à lógica das coligações eleitorais como forma de alcançar as votações necessárias para eleger seus principais candidatos, alguns partidos não conseguiram se adaptar à nova realidade das eleições tipo “cada um por si” e correm o risco de desaparecerem eleitoralmente.

O estudo comparativo apresentado abaixo entre as eleições para vereadores em Maceió nos dois últimos pleitos, 2016 e 2020, pode ajudar a entender essa nova lógica.

A primeira diferença salta aos olhos: em 2016 tivemos 228 concorrentes à Câmara Municipal de Maceió. Em 2020 foram 569 candidatos.

Ou seja, 341 novas lideranças foram chamadas a compor as diversas chapas, a maioria delas utilizadas para a obtenção do quociente eleitoral.

Outros poucos partidos já sabiam que venceriam esta barreira e compuseram suas chapas com o intuito de tentar ampliar ao máximo o número de vagas conquistadas.

De onde surgiram estes 341 candidatos? Como foram convencidos a participar das eleições?

Aumento de vagas

Um dos fatores mobilizadores utilizado pelos partidos para conseguir novos candidatos foi o da ampliação da bancada maceioense de vereadores, que passou de 21 para 25, implicando na queda no quociente eleitoral.

Barreira que tenderia a cair mais ainda com as abstenções esperadas por causa da pandemia.

Para os partidos, um quociente mais baixo era mais fácil de ser atingido.

Havia ainda a possibilidade de se conseguir votações próximas ao quociente, apostando-se que mesmo assim haveria chance de se disputar as vagas remanescentes.

Isso de fato aconteceu e permitiu que quatro vagas fossem ocupadas por quatro partidos que não conseguiram o quociente eleitoral de 15.758 votos.

Foram eles: PTC (15.512), que elegeu Samyr Malta; REPUBLICANOS (13.837), representado por Oliveira Lima; PT (12.423), com Valmir Gomes; e o PSDB (11.455), que colocou na Câmara Teca Nelma.

Destes quatro partidos somente o PT disputou a eleição anterior sozinho, conseguindo praticamente a mesma votação de 2016, que foi de 11.711 votos.

Dos 28 partidos que disputaram vagas na Câmara Municipal da capital, somente oito conseguiram vencer a barreira do quociente. Mesmo assim, dois deles, o PRTB (19.982) e o DEM (18.398), ficaram próxima dela.

O quociente baixo também provocou o aumento do número de vagas preenchidas como sobras da primeira distribuição por quociente. Em 2016, das 21 vagas somente três foram definidas nesta fase. O quociente era de 19.789 votos.

Na eleição deste ano, com 25 vagas e quociente eleitoral de 15.758 votos, nove vagas foram para as sobras, momento em os partidos que conseguiram votações inferiores ao quociente são reabilitados e concorrem a estas cadeiras.

Apresentamos abaixo um quadro comparativo das eleições para vereador em Maceió entre os anos de 2016 e 2020, expondo as modificações que aconteceram nos partidos e indicando os que aparentemente se prepararam para essa nova realidade.

Os números revelam também as agremiações que vão enfrentar dificuldades para continuarem existindo sob normas que foram estabelecidas com o objetivo claro de reduzir a quantidade de partidos no Brasil.

Cresceram

O MDB, ao eleger cinco vereadores com 65.237 votos e 27 candidatos, demonstrou que soube angariar candidatos bem estruturados de partidos onde ficou evidente que não haveria chance de eleição. O antigo PMDB já tinha obtido bons resultados em 2016, quando elegeu quatro vereadores e teve 43.674 votos com apenas 10 candidatos na coligação. Foi beneficiado em 2020 também por apresentar um forte candidato majoritário.

O PSB foi outro que conseguiu ampliar bem seus votos, além de conquistar três vagas na Câmara Municipal. Saiu de 11.097 votos com 17 candidatos em 2016, para 39.433 votos com 24 candidatos este ano.

O partido viveu uma crise recente ao sofrer intervenção e ter sua direção estadual entregue a João Henrique Caldas, após o afastamento de Kátia Born. Também foi beneficiado por ter candidatura majoritária.

O PODEMOS, antigo PTN, também ampliou sua votação e bancada, passando de 12.956 votos, com uma vaga, para 32.626 votos e três cadeiras no legislativo municipal.

O PSD fez crescer sua votação de 26.462 votos para 35.128 votos, e conquistou três vagas. Em 2016, com oito candidatos, teve boa votação, mas não elegeu ninguém.

Outro que também obteve três cadeiras foi o PSC, que saiu dos 7.936 votos com cinco candidatos em 2016 — sem eleger ninguém — para 38.000 votos este ano, colocando três vereadores na Câmara.

O PRTB conquistou uma vaga e teve expressiva ampliação da sua votação, saindo de 4.541 votos para 19.982 votos.

Da mesma forma se comportou o PTC, obtendo 15.512 votos e uma vaga. Em 2016 sua votação foi de apenas 3.691 votos.

O PSL ampliou sua votação de 2.216 votos, com dois candidatos, para 7.632 votos, com 32 candidatos.

O PSOL, mesmo não conseguindo uma votação próxima do quociente eleitoral, expandiu significativamente sua votação, saindo de 1.832 votos, com cinco candidatos, para 6.412 votos conseguidos por seus 19 candidatos.

Neste mesmo patamar de votação está a REDE, que manteve seus sete candidatos, mas aumentou sua votação de 3.683 votos para 6.641 votos.

Mantiveram espaços

Alguns partidos conseguiram manter as votações próximas das que tiveram na eleição anterior.

O PP foi um deles. Elegeu três vereadores com 36.418 votos em 2016. Caiu um pouco em 2020. Teve 31.520 votos e ficou com duas vagas.

O PT praticamente repetiu seus votos de 2016 (11.711). Conseguiu agora 12.423 votos e uma vaga.

O PCdoB obteve um pequeno crescimento, saindo dos 6.940 votos de 2016 para 9.018 votos.

O antigo PRB, atual Republicanos, teve votação um pouco inferior, mas o suficiente para manter sua vaga, mesmo não alcançando o quociente em 2020. Teve 16.250 votos em 2016 e agora 13.837 votos.

O PROS teve um pequeno ganho em sua votação. Em 2016 foi de 7.270 votos e em 2020 de 8.773 votos.

Os que perderam

O partido que mais perdeu espaços nesta eleição foi, sem dúvidas, o PSDB. Em 2016, quando elegeu o prefeito Rui Palmeira, obteve 72.074 votos para ocupar cinco vagas na Câmara Municipal de Maceió. Agora conseguiu apenas 11.455 votos e elegeu sua vereadora disputando as vagas remanescentes.

O PL, que obteve 35.616 votos em 2016 elegendo dois vereadores, em 2020 não apresentou candidatos. Esse partido também não tem representante na Assembleia Legislativa.

O PDT em 2016 apresentou seis candidatos a vereador na coligação e teve 14.665 votos. Não elegeu representante. Em 2020, ensaiou a candidatura majoritária de Ronaldo Lessa, mas terminou por compor majoritariamente com o PSB. Com uma chapa de vereadores contando com 25 candidatos, esperava-se mais que os 8.773 votos obtidos.

O DC caiu de 5.843 votos, com três candidatos, para 1.139 votos em 2020, com dois candidatos.

O PPL que deixou de existir ao ser incorporado ao PCdoB, abandonou uma votação de 20.897 votos obtida em 2016 com 14 candidatos.

O PV foi um dos partidos que mais perdeu substância em Maceió. Tinha conseguido apresentar em 2016 14 candidatos numa coligação e eleito um vereador. Seus candidatos obtiveram 19.901 votos. A chapa Verde em 2020 teve 11 candidatos e a votação foi reduzida para 1.596 votos.

Os Patriotas também despencaram de 18.337 votos, com 24 candidatos em 2016, para 2.754 votos, com 11 candidatos.

O PSTU também teve redução expressiva em sua votação. Saiu de 1.951 votos para 158 votos.

Eleições de 2022 no horizonte

Uma análise mais acurada dos dados acima apresentados pode indicar que o processo de rearrumação das forças políticas nos diversos partidos já começa a apresentar seus primeiros resultados. Alguns números indicam que não vai dar para todo mundo sobreviver a essa nova realidade.

Não há candidatos expressivos suficientes para manter competitividade eleitoral em mais de 30 partidos.

Considerando como verdadeira tal assertiva, pode-se concluir que ampliação do número de candidatos em 2020 pode ter se dado de forma artificial na maioria dos partidos. É provável que alguns “cabos eleitorais” foram promovidos a “tenentes eleitorais” de última hora. Os resultados não foram os melhores.

Entretanto, o teste de fogo para estas agremiações ainda está por vir. Será a eleição de 2022, quando as barreiras serão bem mais altas. O quociente eleitoral para deputado federal, por exemplo, pode chegar a 170.000 votos e o de deputado estadual a 60.000 votos.

Com estes quocientes, os partidos que quiserem continuar a receber o fundo partidário devem começar agora o processo de montagem das chapas. Nesse patamar de disputa, não dá para improvisar elevando “cabo eleitoral” a “major”.

Edberto Ticianeli

Jornalista e Produtor Cultural. Ex-secretário Estadual de Cultura. Editor dos sites História de Alagoas e Contexto Alagoas.

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