Cães de Guerra: preparando o golpe

Por Miguel Gustavo de Paiva Torres

Escritor e diplomata Miguel Gustavo de Paiva Torres

6 de janeiro de 2021: apoiadores de Donald Trump armados procuram nos recintos do Capitólio o vice-presidente Mike Pence com a intenção de enforcar ou atirar para matar cantando em hordas “hang Mike Pence“. Leal e dedicado Pence passou a ser atacado e difamado como traidor por Donald Trump nos dias que antecederam o ritual protocolar de confirmação da eleição presidencial de 2020.

Claro que Trump sabia que Pence não tinha poderes para fazer nada fora da lei e da Constituição dos Estados Unidos. Mas isso não interessava. O que interessava era entregar algum culpado aos seus cães de guerra raivosos naquele dia final do longo e ritualístico processo eleitoral no qual ele foi derrotado por Joe Biden.

Se Pence poderia ser assassinado não tinha a menor importância para Donald. Ele sempre manifestou, reservadamente, desprezo por líderes evangélicos sérios. Bíblia, para ele, serve para fazer política e dinheiro, nada mais.

Li com estupor o livro escrito pela sobrinha de Donald, Mary Trump, doutora em psicologia, sobre a vida pessoal e familiar de Donald, da infância à presidência. O perfil psicológico desenhado ao longo da história de vida de Trump tem uma conclusão: Donald não aceita perder e não tem empatia e sentimentos. Clinicamente é um psicopata padrão resume a sobrinha psicóloga. Quando menino, relembra, a mãe dava presentes iguais aos três irmãos. Iguais. Mas Donald roubava os presentes dos irmãos. Quando o pai de Mary, irmão mais velho de Donald, Fred Trump Jr., faleceu de desgosto por não ter podido cumprir as ordens imorais e criminosas do pai em seus negócios imobiliários, Donald preferiu ir ao cinema e não ao enterro.

Quando descobriu a máxima de Goebbels de que uma mentira repetida muitas vezes é uma verdade, adotou com fé e garra a mentira como sua principal arma na política. Teve sorte: o mundo inteiro já estava conectado nas redes sociais, plataformas perfeitas para a disseminação e sustentação da mentira. A mentira no senso amplo da manipulação das massas, invenção do gênio do mal da propaganda nazista.

Mundo afora surgiram imitadores do milionário e criminoso Donald Trump. No Brasil, um vereador da cidade do Rio de Janeiro, Carlos Bolsonaro, considerado como o “Pitbull” da família pelo pai, estruturou toda uma alcateia de cães de guerra na formação de milícias virtuais que copiassem no Brasil as táticas da manipulação de massas adotadas por Donald nos Estados Unidos.

O feijão com arroz é simples, mas é sempre embalado de forma atraente e convincente para as grandes maiorias ingênuas e desinformadas: o que é verdade passa a ser “fake news” e o que é “fake news” passa a ser verdade.  Simples assim. A mídia tradicional e profissional só publica “fake news” e as mídias alternativas nas redes sociais, controladas pelos cães de guerra dos movimentos trumpista e bolsonarista, só divulgam a “VERDADE”.

Principalmente a verdade de que é necessário desmascarar e deslegitimar todas as instituições “corruptas” da democracia liberal assentada em três poderes. Na nossa cópia só o executivo é íntegro e capaz de salvar a nação, a Pátria Amada bolsonarista.

Por isso é preciso armar a muitos. Se as Forças Armadas recusarem apoio incondicional a esse projeto de “Pátria Amada” então o “povo” poderia botar abaixo todos os “capitólios” do Brasil. Seja o Poder Legislativo, seja o Poder Judiciário;  e a primeira bala seria desferida contra “a descarada fraude das votações eleitorais eletrônicas” planejada para roubar o poder à família bolsonarista. A grande família carnal e virtual unida pelas redes sociais.

Nessa toada ou o Brasil removeria Bolsonaro e famílias ou suas famílias tocam fogo e removeriam o Brasil do mapa do mundo.

Edberto Ticianeli

Jornalista e Produtor Cultural. Ex-secretário Estadual de Cultura. Editor dos sites História de Alagoas e Contexto Alagoas.

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