Um projeto para a Amazônia antes que desapareça
Miguel Gustavo de Paiva Torres, embaixador
É o resultado de 44 anos envolvido nas discussões e propostas brasileiras e internacionais para preservação/desenvolvimento que permeou todas as discussões, acordos e tratados assinados e nunca cumpridos no século XX.
A visão ultrapassada da esquerda e da direita brasileira de que o desenvolvimento está acima da preservação, com o argumento retórico de que as nações ricas e desenvolvidas já destruíram o próprio meio delas e global e, portanto, também há o direito dos pobres de desmatar para sobreviver, já não cabe.
Nem Trump, nem Biden, nem Kamala, nem Obama, nem Macron e muito menos a ilhota inglesa que vai desaparecer estão nem aí, na realidade, para o aquecimento global e o fim deste ciclo atual dos seres vivos. Querem ganhar eleições e mandar bombas em cima de todo mundo.
Por isso estou hoje convencido de que a diplomacia brasileira, que não foi feita para agradar ou desagradar presidentes e partidos políticos, ainda tem uma carta para jogar na mesa.
Fundo dos mais ricos não houve e nunca haverá. Sejamos realistas, ninguém quer jogar dinheiro fora com presidentes, partidos, governadores ou prefeitos e vereadores corruptos no sistema de rodizio das democracias pobres e subdesenvolvidas ad-aeternum.
Não vão atender aos apelos da COP-20 na corrupta Belém do Pará, Manaus, Rio, São Paulo, ou Sydney, na Austrália, ou Jacarta na Indonésia. Não acreditam na retórica. Eles próprios construíram narrativas ao longo da história para defender a destruição do pálido ponto azul, nosso planetinha. Só um imbecil vai comprar o papo de mandar dinheiro e salvar o planeta terra. Talvez crianças e adolescentes.
Ninguém vai fazer a política de ninguém ou, como se dizia no Itamaraty, colocar a cereja no bolo do outro.
O que é possível fazer, e surpreender na COP-20, é uma proposta realista de um Comitê Científico Internacional, comprovadamente respeitado e aceito pelas partes, para, com sede em Belém ou Manaus, gerir todos os fundos e projetos internacionais de desenvolvimento econômico, social e humanos da Amazônia, sob estrita presidência científica e respeitando absolutamente a integridade territorial e a soberania brasileira. É a última chance.
Como a proposta vêm de um embaixador aposentado na casa dos 70 anos, certamente será escondida, depreciada e ridicularizada. Mas o que penso está dito. Salvem a Amazônia. Deixem o narcotráfico e o crime organizado nas outras Amazônias, que nos cercam, se for esse o desejo dos países do nosso Pacto Amazônico de 1977, recentemente ressuscitado pelo Brasil.